JCI - Jornal Comércio e Indústria - Cubatão, Vale das Artes - 2018.
Cubatão, ao longo de quase cinco décadas, tem se tornado referência nacional na sua produção artística, sobretudo no que tange a música e na última década a dança, história que começa a ser contada desde o surgimento da Banda Musical “Afonso Schmidt”, há quarenta e oito anos, grupo que deu origem a Banda Musical de Cubatão, a atual Banda Sinfônica de Cubatão.
O ano de 1974 pode ser considerado o desabrochar de uma nova era, quando, numa investida totalmente inovadora e no contrafluxo de tudo que acontecia na Baixada Santista, a Banda Musical “Afonso Schmidt” imprimia uma nova maneira de apresentação nos desfiles de que participava, trazendo para a avenida o requinte do repertório adotado nos grandes centros musicais do mundo, em especial o da Banda Marcial Britânica, baseado nas célebres composições do norte-americano John Philip de Sousa, considerado o “Rei das Bandas”.
Com o seu uniforme inspirado na Guarda Republicana Francesa, em tempos em que Cubatão carregava o estigma de cidade mais poluída do mundo, ganhando o codinome de “Vale da Morte”, contribuiu para que a cidade merecesse um novo olhar e passasse a ter o seu potencial cultural e artístico reconhecido em todo o país. A sua evolução foi tão notória, essa coroada por sucessivas conquistas em nível regional, estadual e nacional, que passou a influir nos regulamentos dos concursos de que participava, sendo primeiro grupo a introduzir nas apresentações ao ar livre instrumentos sinfônicos como oboé, fagote, clarone, trompa e percussão sinfônica, antes não permitidos – daí, das tradicionais marchas e dobrados, assim como música popular, o esplendor da música clássica. A excelência do trabalho da sua Linha de Frente, o Corpo Coreográfico, fez com que os concursos incluíssem esse quesito nas premiações, assim como o prêmio de Melhor Regente, onde Cubatão figurou como vencedor por repetidas vezes, com destaque para o ano de 1981, quando o Maestro Roberto Farias foi homenageado como o “Regente do Ano” pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
A oficialização em 1977, através da Lei Municipal n. 1.102, como Banda Musical de Cubatão, foi a motivação para o surgimento e oficialização de outros grupos artísticos como o Grupo Rinascita, Coral Zanzalá e Banda Marcial de Cubatão juntamente com o seu corpo coreográfico. A Banda Musical de Cubatão, por sua vez, desde 1983, assumindo o status de banda sinfônica, alvo de sucessivas aparições em programas de música erudita de rádio e televisão, além de participações no Festival de Inverno de Campos do Jordão, Festival de Música Nova, entre outros, é finalmente oficializada como Banda Sinfônica de Cubatão, tornando referência nacional e inspirando o surgimento de outros organismos como a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, cujo projeto de profissionalização é de um cubatense.
Considerado um dos mais importantes polos formadores de instrumentistas de sopro e percussão do país, Cubatão se orgulha de ter músicos espalhados por todo o país e também no exterior, entre instrumentistas, regentes e compositores. A dança, com o advento da Cia. de Dança, originária da Linha de Frente da Banda Musical de Cubatão, tem sido uma das grandes glórias na última década conquistando prêmios nacionais e internacionais, como do Festival Internacional de Dança de Joinville (SC) e do Festival Valentina Koslova de Nova Iorque (EUA). O Coral Zanzalá, ultra requisitado para participações junto a importantes conjuntos sinfônicos do Estado, teve o seu momento de glória participando em 2014 do concerto “Messias in Concert”, juntamente com coros de mais de quarenta países, no Lincoln Center de Nova Iorque. A Banda Marcial, com sua versatilidade, além de cumprir o seu papel como banda de marcha, vem cobrindo os mais badalados eventos de entretenimento nas áreas de cinema, jazz e games, além da missão de representar, com grande êxito, o Brasil por duas vezes no Chile. O Grupo Rinascita, dedicado a chamada música antiga (Idade Média e Renascença), é um dos poucos grupos do gênero oficiais no país, além de ser declarado pelo Condepac, Patrimônio Cultural Imaterial, condição essa conquistada pelos demais grupos artísticos neste ano de 2018, pela Lei Municipal n. 3944. O Coral “Raízes da Serra”, com vozes da terceira idade, com um “canto que encanta”,é um dos grandes exemplos do poder transformador da arte e preservação da vida, assim como o Programa BEC – Banda Escola de Cubatão, que atuando na área de sopros, cordas, percussão e dança, vem despertando e forjando talentos que garantem a Cidade mantenha a sua vocação artística e ostente ainda por várias gerações a condição de grande celeiro de músicos.
No entanto, com a paralisação oficial das atividades em 23 de setembro de 2018, por força de uma ADIN – Ação Direta de Inconstitucionalidade, os Grupos Artísticos de Cubatão, diante da morosidade da máquina pública, vivem a “odisseia de um legado de quase cinco décadas”, onde, seis meses após a decretação da inconstitucionalidade da Lei n. 3232, de 4 de abril de 2008, pelo Ministério Público, veem ainda longe a retomada do seu curso normal, quando, ainda com pagamentos pendentes (o relativo ao mês de setembro – o último), o que certamente fará cessar a sua voz por pelo menos cento e oitenta dias. O orçamento, reduzido a 1/3 em relação a 2016, impõe a atividade um grande desafio, o que certamente comprometerá o grau de excelência artística construído ao longo dessas quase cinco décadas de trajetória coroada de sucesso.
Esperamos contar com a sensibilidade dos nossos governantes e apoio irrestrito da sociedade civil em geral. #Somos todos Grupos Artísticos de Cubatão!
por Maestro Roberto Farias (Coordenador dos Grupos Artísticos de Cubatão)
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